sábado, 13 de junho de 2009

Chrysler Turbine 1963







Em 1963 a Chrysler iniciou uma clínica para um veículo propulsionado por turbina. O foco da montadora era produzir 55 unidades do veículo para que fosse testado por um grupo selecionado de 203 motoristas.

O projeto era a continuidade da idéia de que motores a turbina seriam o futuro da propulsão no meio automobilístico, e aproveitando o
know-how de produção de turbinas que obteve durante o período da Segunda Grande Guerra, a Chrysler iniciou a inserção desta tecnologia em protótipos de automóveis nos idos de '50. Em 1954, a primeira turbina para automóveis desenvolvida pela Chrysler (chamada de CR1) ficava pronta, sendo instalada em um Plymouth Belveldere de aspecto completamente original, idêntico a um carro de linha de motor de ciclo Otto.
Era modesta, desenvolvendo apenas 100 HP (98,6 CV), e entregando um consumo de 5,5 quilômetros por litro de combustível; mais tarde ('56), chegava aos testes o propulsor CR2, com 200 HP (197 CV) e um consumo mais convincente de 7,6 quilômetros por litro, em um percurso de 1,200 milhas de Detroit a Princeton. O CR2 também vinha a sanar um problema grave do CR1, este último levava 7.0 segundos para sair de sua rotação "lenta" até seu limite de potência, contra 1.5-2.0 segundos do primeiro; uma vantagem cavalar.


Uma evolução do CR2, o CR2A foi instalado em diversos modelos
da linha Chrysler (inclusive algumas caminhonetes) e foi levado a diversas demonstrações de durabilidade e performance, sendo que algumas unidades foram levadas até a Europa, correndo em circuitos como Silverstone. O resultado dos exaustivos testes e desenvolvimentos de materiais e tecnologias culminou no modelo produzido em 1963, especialmente projetado para a clínica que a Chrysler faria com os consumidores. Os principais defeitos apresentados eram a alta taxa de emissão de óxidos de nitrogênio e o excessivo calor exalado pelo escapamento, sem mencionar o barulho, que lembrava muito o de um aspirador de pó; mesmo assim o projeto teve continuidade. O modelo de '63 foi criado por Elwood Engel (ex-Ford que trabalho no projeto do Thunderbird, modelo no qual o Turbine em questão foi claramente inspirado), era compacto (para os padrões de época) e possuía características distintas, como sua exuberante traseira com reentrâncias metálicas e adornos cromados que eram análogos a sua propulsão, "nascendo" como duas turbinas. O belo interior bronze com quatro lugares (todos bancos individuais), vidros elétricos, ar condicionado, transmissão automática, tacômetro, mostrador de temperatura da mistura, direção hidráulica e freio assistido por hidrovácuo, fora detalhes como pequenas turbinas trabalhadas nas faixas brancas dos pneus completavam sua imagem ímpar. A propulsão já não era mais feita por uma CR2A, mas sim por uma A-831, a quarta geração de turbinas Chrysler de uso automotivo, que era mais leve, silenciosa e eficiente do que sua antecessora. Sua resposta da "lenta" até a potência máxima era de 1.0.-1.5 segundos, com faixa de potência máxima agora entregue em 4.680 rpm (contra 5.360 rpm da CR2A), porém tendo sua potência diminuída para 100 - 130 HP (98,6 - 128,2 cv), e torque aumentado de 31,5 kgfm para 35,4 kgfm. Sua transmissão automática de 3 velocidades era acoplada ao conjunto mecânico, sem a necessidade de um conversor de torque. Dada a baixa tiragem de Turbines '63 a serem produzidos, acabou sendo mais barato para a Chrysler encomendar a produção das 55 unidades de sua carroceria para a Ghia, na Itália, de onde iam direto para Detroit receber sua elétrica e mecânica. A clínica realizada pela Chrysler durou três anos (de 1963 até 1966), onde 203 motoristas selecionados, entre 21 e 70 anos, utilizaram o veículo. O teste apresentou resultados positivos: A durabilidade foi comprovada pela menor taxa de manutenção apresentada pelo Turbine em relação a outros carros propulsionados com motores de ciclo Otto. Entretanto, a Chrysler jamais revelou os dados de consumo obtidos na clínica, nem mesmo delegou uma unidade à apreciação de qualquer jornalista. Após a conclusão da clínica, 46 dos 55 Turbine 1963 produzidos foram destruídos pela Chrysler (mantendo a tradição da indústria de não vender protótipos ou carros não destinados à produção ao público consumidor), sendo que dos nove exemplares sobreviventes, seis tiveram seus propulsores desativados e então foram doados a museus ao redor dos Estados Unidos, os outros três, ainda funcionais, foram mantidos pela Chrysler por razões históricas. A unidade doada ao antigo museu Harrah, em Nevada, foi vendida ao colecionador Frank Kleptz, e se encontra atualmente em estado funcional. Após a morte do Turbine '63, outras gerações de turbinas foram aplicadas a outros modelos da marca, todos experimentais, sendo que o último deles foi em 1980 sobre um Dodge Miranda. Após a crise vivida pela Chrysler, uma das condições do empréstimo governamental que viria a salvar a companhia da falência era a de extinguir qualquer projeto de produção em massa de carros movidos à turbina, pois a empreitada era vista como "de alto risco".


Curiosidades sobre o protótipo:

- A turbina utilizada
poderia queimar qualquer tipo de combustível, sendo uma vez até funcionada com o uso de tequila;
- A iluminação do painel não utilizava lâmpadas, mas um sistema eletroluminescente que funcionava como a resistência de um aquecedor, revestida por um plástico especial produzindo uma luminosidade azul-esverdeada;
- A turbina atingia regimes de giro próximos a 60.000 rotações por minuto, sendo necessário um esquema de engrenagens para despejar uma rotação menor para o conjunto de transmissão.

Um comentário:

  1. Descobri seu blog a partir do "Carros Órfãos" e gostei muito do que vi. Boas escolhas. Já tinha ouvido falar muito superficialmente sobre tais veículos movidos a turbina, mas nunca em tantos detalhes. Parabéns pelo blog, continue o bom trabalho informativo. Abraços.

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